Gestor hospitalar é exonerado do HFA após mudar modelo de licitação

Na contramão da crise na saúde do Rio de Janeiro, servidores do Hospital Federal do Andaraí (HFA), na zona Norte da cidade, vêm se reunindo para enumerar as benfeitorias realizadas na unidade no último ano. Longe de ser um elogio ao atendimento e às condições de trabalho, os funcionários têm a intenção de destacar o fato do hospital ter conseguido resolver problemas básicos durante a última gestão administrativa. A iniciativa veio após a exoneração do gestor hospitalar Vinícius Martins do cargo que vinha assumindo desde outubro de 2014, tendo como prioridade a mudança no modelo de licitações para aquisições, serviçoes e obras no HFA. 

Segundo Martins, ele ficou sabendo da sua exoneração através de colegas de trabalho, que informaram a ele da decisão publicada no Diário Oficial, no início de janeiro. Em contato com o Departamento de Gestão Hospitalar no Rio de Janeiro (DGH), Martins foi informado de que não se enquadrava no perfil do cargo e, por este motivo, foi desligado. "Mas eles também não souberam me descrever qual é o perfil exigido para a atividade", destacou. No momento, o servidor está de férias e aproveitando o período para definir com a direção do hospital o seu rumo na unidade, já que é estatutário.  


Servidores fazem manifestação em frente ao Hospital Federal do Andaraí e pedem retorno do gestor hospitalar ao cargo

No ano de 2015, Martins admite que fez uma "forte fiscalização dos serviços terceirizados na unidade". Além disso, dinamizou as atividades dos servidores para serem melhor aproveitados nos setores, além de abrir novas licitações, já que as empresas contratadas não estavam cumprindo as condições acordados e nem obedecendo prazos de entrega. "Por sinal, muitas empresas estavam atuando sem passar por processo de licitação", comentou ele. Segundo o ex-gestor, quando ele assumiu o cargo o Hospital do Andaraí estava com todos os setores em estado "crítico" e "caótico". A situação mais grave era referente às licitações. "A maioria das empresas estavam atuando por licença de licitação por emergência. A gente iniciou um processo para que todas pudessem passar pelos processos licitatórios e, assim, assumir responsabilidades e prazos", afirmou ele, contabilizando uma queda para 12% nos processos emergenciais praticados para aquisição. Este percentual era de 55% quando Martins assumiu o cargo. O setor de serviço também recebeu diversas novas licitações. "Com relação às obras no setor de emergência do hospital, Martins afirma ter assumido uma postura "rígida" e cobrado do próprio DGH a logística das intervenções de acordo com as metas estabelecidas para o melhor atendimento da população.  

A presença de um engenheiro na unidade para acompanhar o andamento das obras também foi uma exigência da gestão de Martins. "O motivo [da sua exoneração do cargo] pode estar ligado a um destes fatos, mas sinceramente eu não sei. É claro que as mudanças não agradaram a todos", disse o servidor. 
Assembleia realizada no HFA com a presença dos funcionários e corpo médico

As boas ações durante a gestão de Martins, segundo ele, permitiram ao HFA auxiliar outras unidades da rede, com abastecimento de insumos e ainda registrar um aumento de 30% no número de cirurgias. A exoneração de Martins foi motivo para a realização de assembleias que vêm sendo realizadas entre funcionários e o Corpo Médico hospitalar para discutir e entender a decisão do DGH. Até uma manifestação foi realizada na porta da unidade, revindicando o retorno do servidor ao cargo de chefia. 

O diretor do Corpo Médico, Sidney Franklin, também observa o desligamento de Martins com estranheza. "Ele conseguiu, em pouco tempo, reorganizar o hospital. Ninguém poderia imaginar que um servidor que estava fazendo o seu trabalho com tanta excelência fosse exonerado, e desta forma hostil", disse o médico. Sidney confirma a versão dada por Martins quanto ao modelo de licitação que estava sendo praticado, assim como destaca as melhorias feitas pelo coordenador de gestão no decorrer do último ano, assim como a competência técnica e ética do servidor. "Ele não tinha horário, fazia horas extras sem reclamar. Tinha dias que ficava conversando comigo altas horas da noite sobre o desempenho das atividades e o que fazer para melhorar o atendimento", conta. De acordo com o diretor, Martins foi convidado para o cargo pelo antecessor do atual diretor-Geral do hospital, Gabriel de Pimenta de Moraes Neto. 

"Apos ele assumir [em outubro de 2014], as obras avançaram à olhos vistos, da fachada ao Centro Cirúrgico. Recebemos novos equipamentos, roupas para pacientes e funcionários, capotes de proteção para quem trabalha na radiologia, ativamos departamentos que estavam sem atender há meses e os contratos receberam novo tratamento, bem mais transparente. Inclusive passamos a ter a brigada de incêndio", afirma o médico.

A equipe de jornalismo do blog entrou em contato com o DGH, mas a Assessoria de Comunicação do órgão náo retornou os telefonemas.

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