"Uma tentativa de sobrevivência", diz Pinto Molina sobre referendo na Bolívia

A presença massiva dos bolivianos neste domingo (21/2) às urnas no referendo para decidir sobre a reforma constitucional proposta pelo presidente em exercício desde 2006, Evo Morales, dando o direito ao mandatário concorrer à reeleição no próximo pleito, em  2019, demonstra o interesse da nação no processo. As pesquisas nacionais de boca de urna feitas durante a votação apontam para uma maioria do “no” – 51% - contra 22% de “si”, de acordo com as primeiras reportagens da mídia local acerca dos resultados. A apuração das urnas em áreas rurais, principais redutos de Morales, deve deixar a disputa mais acirrada entre defensores e opositores da reforma.

No caso da proposta constitucional ser aprovada, Evo Morales terá a chance de permanecer duas décadas no poder, mas terá ainda pela frente as eleições de 2019. O referendo ganhou força com a participação de grupos socais. Por um lado, o movimento Plataforma de Lutadores Sociais Contra a Impunidade e por Justiça e Memória do Povo Boliviano busca a vitória do “no”, alegando que o governo Morales está tentando um golpe ao estender o seu mandato até 2015. Já a frente Obrera Boliviana acredita que a reforma que favorece o Executivo será o melhor caminho para a nação. 
Preliminares em referendo na Bolívia. Foto Reprodução internet

E no centro deste “cabo de força” estão as denúncias contra o presidente que vem estampando as páginas dos jornais nacionais nos últimos meses, dividindo ainda mais as opiniões dos eleitores. Na análise do ex-senador Roger Pinto Molina, um dos principais líderes da oposição ao governo Morales, a votação deste domingo não representa um “projeto político”, mas “uma tentativa [da população] de sobreviver por um caminho democrático”. Pinto Molina está no Brasil desde agosto de 2013, quando foi resgatado e trazido para o país por funcionários da embaixada brasileira em La Paz, após passar mais de um ano em asilo político. O parlamentar denunciou a equipe ministerial de Morales por suposto envolvimento com o narcotráfico e se disse perseguido e ameaçado de morte pelo governo boliviano.
“A gestão do presidente Evo Morales está envolvida com muitas denúncias. Pesa contra ele e a sua equipe ministerial acusações de envolvimento com o narcotráfico, corrupção, fraudes em eleições, violações dos direitos humanos, extorsão, assassinatos de inocentes...muitas coisas. O povo não aguenta mais este quadro”, disse Molina enquanto acompanhava com a ajuda de amigos na Bolívia os resultados do referendo neste domingo (21).  

O ex-senador considera a proposta de mudança em incisos constitucionais ‘uma tentativa [de Evo Morales] de manter a rede de corrupção que implantou durantes os longos anos no poder’.  “Temos que entender que ele [Evo Morales] destruiu as instituições na Bolívia. Atualmente, a nação não tem mais alternativas institucionais para fazer as suas denúncias de violações ou fatos desta natureza. Não há democracia, nem justiça”, destaca Molina.
 
O vice-almirante boliviano Ismael Schabib, também publicou recentemente um artigo em jornais nacionais criticando o governo Morales. Ele detalha em seu texto supostos casos de corrupção e crimes envolvendo o nome do presidente. O militar relembra um episódio envolvendo uma executiva da Bolívia Highway Administration, empresa ligada ao MAS (partido de Morales), e o presidente boliviano, que supostamente teria tido um filho com a mulher. Na sequência, o almirante cita outro suposto caso amoroso de Morales, que também teria resultado em um filho levado para Cuba. O militar comenta ainda um suposto caso de corrupção que teria abatido do Fundo Indígena bilhões de dólares.    
 
Por fim, Schabib destaca a reportagem do jornalista Carlos Valverde Bravo, que aponta  Morales como pai do filho da gerente da Engenharia China CAMC – “que os contratos públicos são adjudicados por mais de 550 milhões[de dólares]”. “Nestes três casos (apenas um comprovado) o denominador comum é que as namoradas do Sr. presidente ou seus familiares são milionários envolvidos em negócios do Estado. Isto é censurável, tráfico de influência e nepotismo”, destaca o artigo do almirante.

O atual presidente da Bolívia já cumpriu, tecnicamente, três mandatos, sendo favorecido por outra recente mudança constitucional que estendeu o seu tempo no poder. Nos últimos meses, escândalos vêm abalando a popularidade do mandatário, que há poucos dias foi acusado de usar influência política para favorecer uma ex-namorada, para que ela conseguisse um cargo em uma multinacional chinesa.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Feijoada do Sheraton

Miguel Ângelo, músico do The Fevers, morre aos 65 anos, no RJ

Informa sobre Robertha Portella