Especialista: "FHC, Lula e Dilma são muito parecidos, as circunstâncias é que mudaram"
O economista e vice-presidente da Associação dos Investidores Minoritários, Aurélio Valporto, comenta em artigo a atual conjuntura econômica do Brasil, agravada pela crise política do governo do PT e a operação Lava Jato, da Polícia Federal. Ele frisa que os últimos governos - do tucano Fernando Henrique Cardoso e dos petistas Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff - cometeram uma sucessão de erros e equívocos, e as conquistas, na verdade, nada tiveram haver com competência de gerir, mas oportunidades de crescimento que foram esbanjadas em troca de esquemas de corrupção.
Veja o artigo na íntegra:
Anda circulando pela internet uma imagem que aponta FHC como o "pai do Real", Lula como quem colheu os frutos e Dilma, como quem "cortou o tronco". Com milhares de "curtidas" e milhares de compartilhamentos, mostra que a "massa" de fato concorda com o pictograma em questão. Mas, para quem não se lembra, o Plano Real antecede os 8 anos de governo FHC, o simples fato de ele não ter colhido frutos seria uma prova de incompetência sem fim. Sim, ele foi muito incompetente e seu governo corrupto, a eleição de Lula em 2002 foi uma tentativa desesperada do povo deste país de fugir da incompetência e, principalmente, da corrupção. Nas linhas seguintes vamos aos fatos.
Em primeiro lugar, FHC não foi "pai" de coisa alguma, se o plano Real teve um "pai" este foi Edmar Bacha, da PUC Rio; em segundo lugar, o Plano Real apenas cessou com a inércia inflacionária causada por indexadores. Qualquer outro plano que visasse acabar com a inércia inflacionária, como o Plano Verão tentou, conseguiria seu intento.
Veja o artigo na íntegra:
Anda circulando pela internet uma imagem que aponta FHC como o "pai do Real", Lula como quem colheu os frutos e Dilma, como quem "cortou o tronco". Com milhares de "curtidas" e milhares de compartilhamentos, mostra que a "massa" de fato concorda com o pictograma em questão. Mas, para quem não se lembra, o Plano Real antecede os 8 anos de governo FHC, o simples fato de ele não ter colhido frutos seria uma prova de incompetência sem fim. Sim, ele foi muito incompetente e seu governo corrupto, a eleição de Lula em 2002 foi uma tentativa desesperada do povo deste país de fugir da incompetência e, principalmente, da corrupção. Nas linhas seguintes vamos aos fatos.
Em primeiro lugar, FHC não foi "pai" de coisa alguma, se o plano Real teve um "pai" este foi Edmar Bacha, da PUC Rio; em segundo lugar, o Plano Real apenas cessou com a inércia inflacionária causada por indexadores. Qualquer outro plano que visasse acabar com a inércia inflacionária, como o Plano Verão tentou, conseguiria seu intento.
E por que o Plano Verão fracassou e o Real funcionou? Porque na época do Plano Verão as raízes do processo inflacionário estavam presentes, ao passo que na época do Plano Real estas raízes haviam sido extirpadas. Mas não foram extirpadas por nenhuma benfeitoria econômica interna, planejada pelo governo FHC, mas sim pelo ganho de produtividade advindo da bonança externa, que fez com que o influxo de capitais retornasse ao país. Este influxo de capitais resultou em modernização da economia nacional, em especial do capital fixo, e isto permitiu o ganho de produtividade que, como consequência, conduziu a economia a uma estrutura estável entre os preços relativos. Com os preços relativos estabilizados, qualquer plano que visasse acabar com a inércia inflacionária funcionaria.
Aurélio Valporto / Divulgação Câmara Federal |
Se FHC foi beneficiado pela bonança externa que fora propulsada pelos Estados Unidos, Lula assumiu em uma fase de maior bonança ainda, esta trazida pelas luxuriantes taxas de crescimento da China. A enorme demanda chinesa por produtos primários fez com que a relação de troca entre as “commodities” exportadas pelo Brasil e os industrializados asiáticos se alterassem enormemente. Apenas para dar uma ideia, quando Lula assumiu, a tonelada no minério de ferro era negociada por menos e 30 dólares, ao sair do governo estava cotada em cerca de US$ 190.
Ambos, ao invés de usarem os períodos de bonança para o desenvolvimento econômico e tecnológico do país, levando-o a galgar degraus nos fluxos internacionais de produção, deitaram-se na corrupção, seja por pura vaidade, seja para enriquecimento pessoal.
FHC deixou como herança para Lula o caminho do "mensalão", da corrupção nas estatais etc (o etc, provavelmente, é mais significativo que os dois itens anteriores). FHC e Lula são muito parecidos, parecidos até na ignorância de seus feitos, embora um seja PHD e o outro, um apedeuta. FHC vai morrer achando que o grande feito do seu governo foi o pífio Plano Real, é ignorante no sentido que não sabe que quem liquidou a inflação foi o ganho de produtividade, que não teve nenhum mérito seu, qualquer plano para acabar com a inércia inflacionária funcionaria. Lula acha que propiciou o crescimento e distribuição de renda no Brasil durante o período de seu governo. Não enxerga que apenas surfou na marola da barca da bonança internacional. Pelo contrário, a abertura desastrada de ambos, em especial de Lula ao reconhecer a China como economia de mercado, adjudicou à economia nacional um lugar apenas na base das cadeias produtivas internacionais. Em outras palavras, submeteram o país ao neo colonialismo econômico do século XXI. Se antes os colonizadores nos davam espelhos em troca de metais e demais produtos primários, no século XXI nos dão telas de LCD e celulares.
A crise atual não é culpa da Dilma, não que ela seja competente, longe disso, é tão incompetente quanto seus dois antecessores, mas é uma azarada. Quando ela fala em crise internacional, na verdade ela está falando em freada no crescimento chinês, que fez como que os produtos primários oferecidos pelo Brasil ao resto do mundo despencassem de preço e, com isso, nossa relação de troca com o resto do mundo fosse drasticamente alterada para pior. Isto expôs todas as mazelas do estado inepto e corrupto, bem como o estado de penúria da capacidade produtiva nacional, afora os bens primários. De fato, a indústria, excetuando-se a extrativa, atrofiou-se e a de transformação, intensiva em capital e propulsora da produtividade econômica, que já chegou a ser responsável por mais de 30% do PIB brasileiro, hoje responde por pouco mais de 10% apenas. Resultado da submissão ao neo colonialismo econômico adotada pelos últimos governos e levadas às últimas consequências no período Lula. De fato cheguei a ver lulistas defendendo que o Brasil deveria ser, de fato, um celeiro do mundo, que esta era nossa vocação econômica. Era aterrador ver tal manifestação de ignorância vindo de pseudo-intelectuais do partido.
Na verdade, FHC, Lula e Dilma são muito parecidos, as circunstâncias é que mudaram, e se Dilma pegou um “abacaxi” fadado ao fracasso, isto se deve, principalmente, ao fato de FHC e Lula terem desperdiçado a oportunidade de, aproveitando a bonança internacional, levarem a economia crescer a taxas chinesas, distribuindo renda e deixando o país imune à enorme volatilidade dos preços dos produtos primários. Desperdiçaram a oportunidade de fortalecer a produção nacional de bens e serviços de maior valor agregado, atendendo ao mercado interno e galgando degraus nas cadeias produtivas internacionais. Ao invés disso, descemos para a base destas.
Aurélio Valporto
Economista com mestrado em finanças pela FGV, é Vice Presidente da Associação dos Investidores Minoritários
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